Ernest Sarlet
Conforme o
dicionário Aurélio: Saliva, s.f., líquido transparente e insípido, segregado
pelas glândulas salivares, que serve para fluidificar os alimentos e facilitar
a ingestão e digestão”. Segundo Lauro de Oliveira Lima, em sua obra Temas Piagetanos , o dicionarista só esqueceu
que há mais produção de saliva por ocasião de um discurso (oratória), que no to
das refeições, donde chama-se, na gíria, a aula expositiva de salivação. Ora,
em muitos casos, o nosso sistema escolar funciona, obsessivamente, em forma de
oratória. O resultado salta aos olhos. Após onze anos de “escolaridade” há
muitos jovens que não sabem ler e, como consequência, não sabem escrever. Por
isso, o índice de reprovação nos vestibulares é, proporcionalmente, o mais
elevado na prova de redação. Em parte, eles não têm culpa. Foram “treinados” na
educação “crucificada”.
As avaliações feitas em nível de
“questões objetivas”. As respostas são pré-fabricadas e, quem não aprendeu o
catecismo, não recebe a bênção!
Muitos
professores, e com justa razão, reclamam a respeito da extrema dificuldade que
os alunos enfrentam quando precisam “falar”, “ler”, “escrever” e,
principalmente, pensar e refletir. Mas os alunos tiveram a oportunidade de
exercitar, operacionalizar a aprendizagem? Ora, a diferença entre a “oralidade”
e a aula escrita (textos) é que os textos permitem a reflexão. Não se pode
refletir muito sobre o discurso que se ouve, sob pena de deixar de ouvir o
orador.
A
escrita é o marco civilizatório, justamente porque cria a reflexão sobre a
informação. A rigor, o que significa “estudar”? É meditar, refletir, analisar.
A escrita e a leitura estimulam o pensamento para a reflexão, permitindo ir e
vir para comparar, relacionar, esquematizar, classificar, seriar, inserir,
opor, portanto, meditar. A fugacidade da palavra falada, televisionada não
permite a reflexão. Sem dúvida, são “ferramentas” que enriquecem, ilustram, mas
não são essenciais. Por isso, desde a alfabetização, a leitura silenciosa de
palavras, frases, pequenos textos e seu posterior comentário de indignação,
perguntas e questionamentos, individualmente ou em grupos, permite a avaliação
do “aprendizado”.
Leitura
é fundamental para poder realizar a escrita. Por mais sofisticada que a
tecnologia do som e da imagem possam vir a ser, os roteiros dos locutores, dos
noticiários, das novelas, dos filmes, necessariamente, passam, pelo processo da
escrita.
Vamos
alfabetizar já!
Ernest Sarlet é diretor de Cidadania e Direitos Humanos da Abicalçados-
Brasil e ex-membro do Conselho Estadual de Educação do Rio Grande do Sul.
(Jornal NH)
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