terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Quem não lê, não escreve


                                                                                                           Ernest Sarlet
Conforme o dicionário Aurélio: Saliva, s.f., líquido transparente e insípido, segregado pelas glândulas salivares, que serve para fluidificar os alimentos e facilitar a ingestão e digestão”. Segundo Lauro de Oliveira Lima, em sua obra  Temas Piagetanos , o dicionarista só esqueceu que há mais produção de saliva por ocasião de um discurso (oratória), que no to das refeições, donde chama-se, na gíria, a aula expositiva de salivação. Ora, em muitos casos, o nosso sistema escolar funciona, obsessivamente, em forma de oratória. O resultado salta aos olhos. Após onze anos de “escolaridade” há muitos jovens que não sabem ler e, como consequência, não sabem escrever. Por isso, o índice de reprovação nos vestibulares é, proporcionalmente, o mais elevado na prova de redação. Em parte, eles não têm culpa. Foram “treinados” na educação “crucificada”.
As avaliações feitas em nível de “questões objetivas”. As respostas são pré-fabricadas e, quem não aprendeu o catecismo, não recebe a bênção!
            Muitos professores, e com justa razão, reclamam a respeito da extrema dificuldade que os alunos enfrentam quando precisam “falar”, “ler”, “escrever” e, principalmente, pensar e refletir. Mas os alunos tiveram a oportunidade de exercitar, operacionalizar a aprendizagem? Ora, a diferença entre a “oralidade” e a aula escrita (textos) é que os textos permitem a reflexão. Não se pode refletir muito sobre o discurso que se ouve, sob pena de deixar de ouvir o orador.
            A escrita é o marco civilizatório, justamente porque cria a reflexão sobre a informação. A rigor, o que significa “estudar”? É meditar, refletir, analisar. A escrita e a leitura estimulam o pensamento para a reflexão, permitindo ir e vir para comparar, relacionar, esquematizar, classificar, seriar, inserir, opor, portanto, meditar. A fugacidade da palavra falada, televisionada não permite a reflexão. Sem dúvida, são “ferramentas” que enriquecem, ilustram, mas não são essenciais. Por isso, desde a alfabetização, a leitura silenciosa de palavras, frases, pequenos textos e seu posterior comentário de indignação, perguntas e questionamentos, individualmente ou em grupos, permite a avaliação do “aprendizado”.
            Leitura é fundamental para poder realizar a escrita. Por mais sofisticada que a tecnologia do som e da imagem possam vir a ser, os roteiros dos locutores, dos noticiários, das novelas, dos filmes, necessariamente, passam, pelo processo da escrita.
            Vamos alfabetizar já!


Ernest Sarlet é diretor de Cidadania e Direitos Humanos da Abicalçados- Brasil e ex-membro do Conselho Estadual de Educação do Rio Grande do Sul. (Jornal NH)

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